Os destaques de hoje na fotografia: notícias sobre tradição, tecnologia e novas narrativas
- Leo Saldanha

- 9 de out.
- 4 min de leitura
Um panorama dos lançamentos, reflexões e premiações que mostram como o ato de fotografar continua a mudar (e a nos mudar)

A fotografia vive uma fase curiosa e intensa, em que a nostalgia do analógico e a aceleração tecnológica da inteligência artificial se cruzam como duas forças opostas que, na prática, caminham juntas. Nesta semana, as novidades do universo visual formam um retrato desse tempo híbrido em que o gesto de fotografar se confunde com o ato de editar, pensar e existir dentro de um fluxo constante de imagens.

No campo da experimentação, a Flashback ONE35 V2 propõe algo raro: devolver o prazer do clique sem abrir mão da conveniência moderna. O modelo permite alternar entre o modo clássico, com atraso na visualização e limitação de disparos, e o modo digital imediato. A experiência é paradoxal e charmosa. Em um mundo obcecado pela velocidade, o produto sugere que talvez ainda exista espaço para o tempo de espera e a surpresa do que se revela na imagem.

Enquanto isso, o New York Times analisou o impacto do Sora, o sistema de vídeo com inteligência artificial criado pela OpenAI, que promete transformar o texto em imagem em movimento. O artigo discute os efeitos culturais e éticos desse avanço. Não se trata apenas de tecnologia, mas de um novo tipo de autoria, em que o diretor e o algoritmo dividem o mesmo crédito criativo. A fronteira entre imaginação e manipulação se torna cada vez mais tênue, e a ideia de “realidade filmada” parece pronta para se dissolver.
Outros lançamentos reforçam que o fascínio pelo passado ainda dita o presente. A LightPix Labs revelou um novo flash desenhado especialmente para câmeras de estética retrô, unindo design clássico e funcionalidade moderna. O mesmo espírito aparece na Light Lens Lab, que continua apostando em projetos de filme e câmeras híbridas, um gesto quase poético em tempos de algoritmos. O retorno ao físico não é resistência, mas uma forma de reencontro com o tato e com a imperfeição perdida.
O olhar humano também segue em destaque. O Pure Street Photography Awards 2025 premiou imagens que celebram o cotidiano urbano, a espontaneidade e o instante não planejado. Em um mundo cada vez mais mediado por filtros e previsões automáticas, a fotografia de rua se torna ato político e exercício de presença. Ela lembra que ainda há algo de insubstituível em estar ali, diante da cena, sem controle total sobre o que vai acontecer.
Na área técnica, o Fstoppers analisou a lente Sony 100mm f/2.8 Macro GM e destacou sua precisão e versatilidade para retratos e detalhes. Em outro artigo, o mesmo site observou como os arquivos JPEG podem economizar tempo sem perder qualidade, apontando que a eficiência pode ser uma virtude criativa. Entre pixels e produtividade, o que se percebe é uma busca por equilíbrio: não é mais sobre ter o arquivo perfeito, mas o fluxo mais inteligente.
A publicação também trouxe uma reflexão importante sobre o comportamento criativo com o texto “The Truth About Validation and Photography Growth”, que discute o papel da validação externa no crescimento artístico. O fotógrafo contemporâneo vive entre o prazer de criar e a ansiedade do reconhecimento. Em tempos de redes, a aprovação virou métrica de existência. É uma lembrança incômoda, mas necessária.
Fora do universo estritamente visual, o site Decrypt levantou um alerta sobre a possível bolha econômica da inteligência artificial, tema que afeta diretamente as indústrias criativas. Outro artigo, “OpenAI Just Turned ChatGPT Into an App Platform”, mostra como o campo da criação digital está se tornando mais integrado e dependente de ecossistemas automatizados. Se houver um estouro, será não apenas financeiro, mas também simbólico: o mercado de imagem, hoje sustentado por IA, terá de repensar seu próprio ritmo.

As marcas de smartphones seguem se aproximando do legado óptico das câmeras tradicionais. Um relatório do ZoomBangla News revelou que o novo sensor de 200 megapixels da Samsung deve equipar modelos da Realme e Vivo. Já o portal Digit.in analisou por que essas parcerias com fabricantes lendários, como Leica e Hasselblad, continuam a atrair tanto interesse e se elas realmente impactam o resultado final. A questão segue em aberto, mas a tendência é clara: a fotografia está cada vez mais dentro do telefone, e o telefone cada vez mais dentro da fotografia.
Entre os registros artísticos, o fotógrafo Yalim Vural trouxe um novo olhar para a rua, misturando cor, contraste e leveza na tradição do realismo poético. Em entrevista à Folha de S.Paulo, Boris Kossoy afirmou que “uma imagem não vale por mil palavras de jeito nenhum”, lembrando que a fotografia precisa ser lida, interpretada e contextualizada.
A Oceanographic Magazine destacou Ben Thouard, vencedor do Ocean Adventure Photographer of the Year, por capturar emoção em meio à imensidão marinha. E o Kottke.org apresentou os vencedores do Bird Photographer of the Year, reafirmando que a natureza ainda é o palco mais puro da contemplação fotográfica.
Por fim, a CBN entrevistou a fotógrafa vencedora do Prêmio Vladimir Herzog, que descreveu sua imagem como “repleta de camadas de tristeza”. Em meio à abundância visual e ao ritmo das redes, a força dessa declaração lembra que há fotos que ainda tocam, que ainda ferem e que ainda dizem algo sobre nós.
O panorama da semana mostra um campo em ebulição. A fotografia já não é apenas técnica ou arte, mas um espelho complexo de nossa relação com o tempo, a memória e a verdade. Entre flashes retrôs, vídeos de IA e lentes de precisão, talvez o que permaneça seja o gesto de olhar. Esse ato antigo e cada vez mais raro de realmente ver.



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