O espelho da IA: o que os rankings de artistas e fotógrafos mais copiados revelam sobre nós
- Leo Saldanha

- 24 de out.
- 3 min de leitura
De Annie Leibovitz a Wes Anderson, estudos recentes mostram como a inteligência artificial reflete o olhar humano e expõe nossa memória estética coletiva.

Mesmo em um mundo cada vez mais dominado por algoritmos, a criação continua humana. Dois novos levantamentos (um publicado pela PetaPixel, outro pela Kapwing) ajudam a entender como a inteligência artificial vem sendo alimentada por referências visuais vindas da fotografia, da arte e da cultura pop. O resultado é um retrato revelador: a IA não está inventando um novo olhar, mas reproduzindo os estilos que marcaram gerações.
Os fotógrafos mais imitados do Midjourney
O estudo para a PetaPixel analisou milhares de prompts na base de dados do Midjourney, revelando os 200 fotógrafos mais citados por usuários que tentam reproduzir estilos visuais reconhecíveis. No topo da lista está Annie Leibovitz, com mais de 46 mil menções. A autora de alguns dos retratos mais icônicos do século XX segue sendo o ideal estético mais buscado por quem pede à IA para criar “como Annie faria”.

Logo abaixo aparecem Helmut Newton, conhecido por seu erotismo elegante e provocador, e Nan Goldin, que transformou intimidade e vulnerabilidade em linguagem poética. Outros nomes, como Gregory Crewdson (com suas cenas cinematográficas de subúrbio americano), Petra Collins, Elsa Bleda e Ansel Adams, mostram que a IA é um espelho da própria história da fotografia: da moda à paisagem, do documental ao surreal.

E há um detalhe simbólico: entre os 200 nomes mais referenciados do mundo, o único brasileiro é Vik Muniz, reconhecido internacionalmente por transformar materiais cotidianos em obras que desafiam a percepção.
Sua presença solitária na lista diz muito sobre como a fotografia brasileira ainda é sub-representada no imaginário global, inclusive nos bancos de dados que treinam as IAs.
Mas o estudo também levanta dilemas: até que ponto a IA pode copiar um estilo sem invadir o território autoral? O fotógrafo pode ser homenageado (ou explorado) por um prompt?







Artistas, diretores e marcas no laboratório da IA
Outro levantamento da Kapwing, feito em parceria com a NeoMam Studios, mergulhou em quase cinco milhões de prompts do Midjourney para descobrir quais nomes da cultura visual e da arquitetura são mais utilizados como referência. O líder absoluto é Alphonse Mucha, símbolo da Art Nouveau, seguido por Rembrandt e Leonardo da Vinci: uma prova de que o fascínio pelos mestres clássicos resiste até na era digital.

Entre os contemporâneos, Wes Anderson é o diretor mais citado, superando Tim Burton e Christopher Nolan. Sua estética de simetria pastel e melancolia nostálgica virou praticamente um gênero próprio dentro da IA. Na arquitetura, o topo pertence a Zaha Hadid, cujo estilo fluido e futurista inspira milhões de gerações sintéticas.E quando o assunto é cultura pop, Star Wars, Akira e até o McDonald’s aparecem como “musas visuais” recorrentes, referências que misturam imaginação coletiva e consumo global.


Esses dados revelam algo maior: mesmo quando tentamos criar com IA, buscamos no passado (nas imagens que já nos emocionaram) a base para o novo. A máquina aprende com nossas nostalgias.
O que a IA está realmente copiando
No fundo, tanto o estudo dos fotógrafos quanto o dos artistas mostram a mesma verdade: a IA reflete o olhar humano. Ela não cria no vazio, mas nas memórias visuais que acumulamos como civilização e que agora se transformam em dados.Os estilos de Leibovitz, Mucha, Anderson ou Hadid se tornam códigos universais para expressar emoção, beleza e narrativa em um mundo de pixels inteligentes.
Mas essa replicação em escala industrial também questiona o que significa autoria em 2025. Se qualquer pessoa pode digitar um nome e reproduzir um estilo, onde começa (e onde termina) o papel do criador?
O futuro da imagem e o valor da autoria
A era dos prompts está redefinindo o que chamamos de criação. E talvez a resposta não esteja na rejeição da IA, mas em compreender como ela depende de nós: de nossos gostos, nossas referências e, principalmente, de nossa sensibilidade.
Por mais que a máquina copie, o humano continua sendo a origem e o filtro da beleza.É por isso que os fotógrafos, artistas e criadores visuais que compreendem esse movimento têm uma vantagem: sabem transformar suas referências em linguagem viva, e não apenas em comando.
📘 Leitura complementar: A análise completa desses dois estudos, com insights estratégicos sobre estilo, autoria e oportunidades para fotógrafos na era da IA, está disponível na comunidade [Fotograf.IA + C.E.Foto]
incluindo o GAP (Guia de Aplicação Prática) sobre como proteger e fortalecer sua identidade visual em tempos de inteligência artificial.



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