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Fotografia, arte e arquitetura agora em nova fase blockchain


Invisibilidade. Série Pequenas Dores Cotidianas, 2022. - Sonia Gouveia

A fotógrafa, arquiteta e urbanista Sonia Gouveia (SP) equilibra diferentes temáticas em seus trabalhos. Na fotografia, ela atua em várias frentes e estilos, já que além de clicar arquitetura, ela também fotografa sobre as relações humanas ou mostrando as nuances visuais da rotina. Seus trabalhos fotográficos já foram exibidos em diferentes exposições pelo Brasil. Uma bem recente foi na 8ª edição da mostra coletiva “Fotografia Arte Plural”, na Icon Artes Galeria, no Rio de Janeiro.


Atenta às novas possibilidades e tendências tecnológicas, Sonia entrou na fotografia blockchain já lançando suas primeiras fotografias com essa tecnologia que torna único mesmo aquilo que é digital. Nesta entrevista ela fala sobre sua trajetória na fotografia, o que pensa sobre os NFTs, seu processo criativo e planos para 2023. Confira abaixo, boa leitura.




NFoTo - Conte um pouco da sua vivência e carreira na fotografia?


Sonia Gouveia - Minha formação é arquitetura. Sempre houve interesse em foto, primeiro como meio para documentação e estudo, depois como linguagem. Fiz diversos cursos de aperfeiçoamento técnico, linguagem e repertório em artes visuais. Minha dissertação de mestrado, inclusive, é sobre fotografia de arquitetura.

Naturalmente, a partir da minha formação, meu trabalho autoral se pautou muito na fotografia de rua e de arquitetura. A partir de 2019 comecei a desenvolver um trabalho mais conceitual. “Pequenas Dores Cotidianas” foi a primeira série conceitual desenvolvida, que foi bem recebida em festivais no ano passado.


NFoTo - O que te chamou a atenção na fotografia blockchain?


Sonia Gouveia - O que me chama a atenção é a possibilidade de o trabalho alcançar diferentes públicos. Isto é fantástico. Abre uma janela enorme para projetar a obra em outros mercados. E o mais interessante é o controle que o artista mantém sobre sua obra, que é uma evolução no mercado de arte, e é muito positivo.



Irreversibilidade. Série Pequenas Dores Cotidianas, 2022. - Sonia Gouveia


NFoTo - O que pode contar sobre a sua primeira coleção?


Sonia Gouveia - A primeira coleção lançada é composta por imagens de três séries.

“Pequenas Dores Cotidianas” tem como tema as frustrações do dia a dia. A partir da reflexão em torno de situações difíceis, aparentemente sem solução, discuto o dilema da manutenção do status quo, em detrimento da satisfação pessoal. Abordo várias situações que evocam decepção e amargor, insatisfação, desencanto e fracasso, com uma aura de solidão e um incômodo persistente. Para a estreia na blockchain escolhi um políptico chamado “Estresse”, que, através do jogo da cama de gato, ilustra a sensação de estarmos presos em nossas próprias criações.

As séries “Plateia Vazia” e “Torres de Observação” foram desenvolvidas em uma viagem recente à Alemanha. A primeira surgiu ao fotografar arquibancadas vazias. Registrar estes espaços públicos desabitados me remeteu ao esvaziamento da experiência coletiva. Não só em termos físicos, consequência dos tempos pandêmicos, mas também em relação à transferência da experiência coletiva do mundo físico para o digital. E ainda, o tema da solidão aparece na grande quantidade de cadeiras vazias enfileiradas – é sobre estar no meio de muitos, e continuar sozinho.

“Torres de Observação” também aborda a experiência coletiva esvaziada e o isolamento. É um pensamento sobre a relação entre os usuários da torre e a cidade circundante. A torre aqui é interpretada como a passagem do flâneur de Charles Baudelaire – aquela figura que caminha pela cidade, a fim de experimentá-la - para o voyeur. O voyeurismo é entendido aqui como o ato de observar à distância as pessoas, sem que o sujeito interaja com o objeto.

De certa forma, as três séries conversam entre si, em torno da temática da solidão, do isolamento e das angústias.



Estresse. Série Pequenas Dores Cotidianas, 2022. - Sonia Gouveia


NFoTo - Como você cria hoje? Seu processo criativo funciona de que forma?

Sonia Gouveia - São dois processos distintos. Para a fotografia de arquitetura e a de rua, o processo implica numa postura de estar aberta a possibilidades, sem necessariamente estar pautada por um tema. A observação descompromissada pode alimentar reflexões posteriores, ou até mesmo anteriores. A série “Plateia Vazia”, por exemplo, funcionou desta maneira: as primeiras imagens foram criadas sem um tema pré-definido, mas alimentaram um pensamento latente.

O trabalho conceitual tem uma dinâmica oposta. Implica na maturação de um tema e em escolhas estéticas anteriores ao fazimento da foto. Tem, portanto, um tempo de elaboração mais lento, ao passo que, na fotografia de rua, as decisões devem ser muito rápidas, pois se está sujeito à imprevisibilidade.

Para as séries conceituais, utilizo muito a escrita como suporte, para anotar reflexões, ideias e desenvolver conceitos. O celular também funciona como um caderno de notas, para fazer um registro visual rápido. E também uso muito o desenho – e aqui vem a “contaminação” da arquitetura na fotografia: fazer croquis me ajuda muito a pensar em composições e até posicionamento de câmera e iluminação.

Quando um tema para uma série é definido, ele permeia nossos pensamentos o tempo todo... e muitas vezes as ideias surgem no trabalho, na rua, em momentos em que não se está com a câmera por perto. Este processo de anotação, seja escrito ou visual, é muito eficaz.



Plateia Vazia, 2022. - Sonia Gouveia


NFoTo - Qual sua expectativa para a fotografia em 2023?


Sonia Gouveia - Há muitas questões em torno da tecnologia que estão em desenvolvimento, e acredito que neste ano estarão mais evidentes, como o uso de inteligência artificial. A fotografia NFT está crescendo e se tornando mais popular, ampliando inclusive sua presença em museus, como o MoMA. Estes movimentos são muito saudáveis, para instigar o debate e trazer novas perspectivas.

Acredito muito na comunhão do digital com o físico, para potencializar mutuamente seus pontos fortes. Sou, antes de tudo, uma entusiasta do ato de fotografar em si, e desejo esta comunhão, de forma que a essência do processo criativo seja preservada, e que a tecnologia introduza novos parâmetros e amplie suas possibilidades.



Sonia Gouveia faz parte da comunidade NFoTo. Saiba mais e participe clicando aqui >>> A nova fase de valor da fotografia



Desconfiança. Série Pequenas Dores Cotidianas, 2022. - Sonia Gouveia


Torres de Observação, 2022. - Sonia Gouveia


Torres de Observação, 2022. - Sonia Gouveia

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