Rage Bait, Parasocial e o Ano em que as Redes Mostraram o Rosto
- Leo Saldanha
- há 2 dias
- 2 min de leitura
Crônica de um tempo barulhento

Voltei para casa no fim da tarde ouvindo rádio. O trânsito andava devagar, como quem sabe que dezembro não tem pressa. No ar, um debate curioso: as palavras do ano. Oxford escolheu rage bait. Cambridge, parasocial. Duas pequenas cápsulas linguísticas que, de alguma forma, explicam como vivemos conectados em 2025.
Palavras nunca são apenas palavras. Elas denunciam o clima de uma época.
Oxford definiu rage bait como o conteúdo criado para provocar irritação, inflamar opiniões e puxar as pessoas para um embate que nem sempre existe. Uma isca de indignação. Não é nova, mas se tornou rotina tão natural quanto rolar o feed sem perceber o tempo passar.
Cambridge escolheu parasocial, aquela relação em que o observador imagina intimidade com alguém que não sabe da sua existência. É o seguidor que acompanha a rotina, projeta afinidades. Uma proximidade que só existe de um lado.
No fundo, são duas palavras irmãs.
Uma usa a raiva.
A outra, o afeto.
Juntas, desenham o mapa emocional do tempo.
Na fotografia profissional isso aparece todos os dias, ainda que de forma discreta. Uma opinião sobre equipamento que vira batalha. Um tutorial que desperta exageros. Uma crítica leve que se transforma em disputa. Até assuntos banais, que durariam minutos em uma mesa de café, ganham vida desproporcional nas telas.
E, enquanto isso, cresce silenciosamente a intimidade ilusória com quem criamos vínculos invisíveis: fotógrafos, influenciadores, personagens visuais, perfis anônimos. As linhas entre presença, performance e projeção nunca foram tão tênues.
Essas palavras não explicam tudo, mas ajudam a entender a temperatura do momento.
Passei as últimas semanas mapeando o que vem por aí. E essas duas escolhas (rage bait e parasocial) não são apenas tendências linguísticas. São sinais do que precisamos deixar para trás. Ações que nos lembram que a sobrevivência criativa em 2026 não depende de barulho, nem de provocações calculadas, mas da qualidade da presença.
Entre a raiva que rende clique e a intimidade que nunca existiu, existe um terceiro caminho: o da presença sem espetáculo. É ali (no silêncio que não precisa provar nada) que a fotografia, a criação e a vida nas redes voltam a fazer sentido.
Se quiser entender esse novo território com mais profundidade, organizei tudo no Mapa das Redes 2026, fruto de semanas de pesquisa, análise e observação. Não como manual de truques, mas como bússola para atravessar a próxima fase das plataformas com menos ruído e mais intenção.