Por que a IA falha ao criar fotos de família (e por que isso importa mais do que nunca para fotógrafos no Brasil)
- Leo Saldanha
- há 15 minutos
- 4 min de leitura
A IA não é um botão mágico, mas também não é inofensiva

Na última semana, a editora Amanda Smith, da CNET, tentou criar seu cartão de Natal com Midjourney. A ideia era simples: usar uma foto real e transformá-la em um cartão temático. O resultado virou piada nas redes. A IA criou um marido imaginário, filhos inexistentes e até colocou uma rena no lugar da esposa.
É engraçado num primeiro olhar. Mas, por trás da anedota, existe uma movimentação séria. Ela já atinge especialmente os fotógrafos que atuam na faixa mais sensível do mercado, onde preço e volume sempre foram os principais argumentos de venda.
A IA ainda erra muito. Ao mesmo tempo, resolve com o “bom o bastante” para muita gente. Isso começou a mexer na base da pirâmide de serviços fotográficos no Brasil. A história da CNET é um retrato curioso dessa transição. Para entendê-la sem pânico e sem otimismo cego, vale olhar o mecanismo por trás do problema.
Este texto inaugura uma nova série que vou publicar entre dezembro e janeiro sobre a fotografia na era da IA.
Nas últimas semanas fiz pesquisas profundas com IA (principais ferramentas) para entender, sem ilusões e sem pânico, o que realmente está mudando no mercado brasileiro e lá fora.
O episódio de hoje é o ponto de partida.
A partir desta história aparentemente simples, examinamos como a IA altera expectativas, comportamentos e a base de valor da fotografia.
Os próximos episódios aprofundarão temas como:
• os trabalhos que já estão sendo substituídos
• as áreas que estão crescendo
• os serviços híbridos que mais tendem a escalar
• como a IA muda a percepção de “foto boa” para o público
• como reposicionar um negócio fotográfico para 2025 e 2026
Este é o episódio zero.
A série continua nos próximos dias.
Por que o Midjourney cria famílias que não existem
O ponto central é que o Midjourney não é uma ferramenta de edição fotográfica. Ele não trabalha com fidelidade facial. O que ele faz é reinterpretar ideias presentes numa imagem, e não reproduzi-la. Achei até curioso ela usar essa IA quando poderia ter usado Nano Banana por exemplo, e se tivesse feito isso, teria tido resultados melhores.

O modelo do Midjourney extrai humor, paleta e atmosfera, não identidade. Sem recursos como controle geométrico ou preservação de rosto, a ferramenta prioriza estética em vez de precisão. Quando o usuário pede um cartão natalino, o modelo entrega aquilo que reconhece como tema: uma família idealizada, uma casa de inverno, luzes, fantasia. A pessoa real se perde no processo.
Por isso Midjourney costuma falhar em tarefas que dependem de reconhecimento fiel. E é por isso, também, que outras ferramentas funcionam melhor quando a intenção é editar uma foto real, preservar um rosto ou ampliar uma cena.
O que isso revela para o fotógrafo no Brasil
A história da CNET mostra um limite da tecnologia, mas não mostra o impacto que já está acontecendo aqui. A mudança no comportamento do consumidor brasileiro é clara. E ela pressiona principalmente quem sempre trabalhou em segmentos mais sensíveis a preço.
O que observamos no dia a dia, nas mentorias, análises e conversas com profissionais, reforça três movimentos.
1. A IA já substitui parte da demanda de baixo valor
Cartões simples, montagens rápidas, convites, pequenos retoques, fundos básicos.
Grande parte disso o cliente já resolve sozinho, com um clique, sem exigir fidelidade absoluta. Para quem depende desse tipo de serviço, o impacto é imediato.
2. O fotógrafo “médio” sente a erosão
Perdem espaço aqueles que oferecem ensaios pouco dirigidos, produtos genéricos, fundos digitais prontos, entregas sem proposta estética clara. A IA entrega o “ok” com velocidade. E o cliente que procura preço baixo costuma aceitar o “ok”.
3. O fotógrafo de identidade cresce
Em contrapartida, cresce a valorização de quem oferece visão própria.
Direção, narrativa, presença, marca pessoal, estética consistente, experiência.
A IA não entrega pertencimento, não cria vínculo, não lê emoções, não conduz sessão, não enxerga nuances de luz e expressão. Esse espaço continua humano.
A diferença entre quem cresce e quem encolhe fica justamente na clareza do estilo e na capacidade de integrar ferramentas de IA ao trabalho real, sem perder identidade.
O problema não é a IA. É o uso. E é o posicionamento.
A maior parte do público usa a ferramenta errada para a tarefa errada.
Faz isso sem método, sem entender luz, sem entender o que significa preservar uma identidade visual. E busca um resultado rápido.
O fotógrafo profissional precisa caminhar na direção oposta.
Escolher o modelo certo.
Controlar luz e coerência.
Combinar captura real com IA de forma consciente.
Entregar narrativa e estética, não apenas imagem.
A disputa deixa de ser técnica. Passa a ser emocional, estética e estratégica.
O que realmente está em jogo
A IA não elimina a fotografia como linguagem.
Mas já reduz uma parte do mercado, especialmente:
• quem cobra muito barato
• quem entrega volume sem estilo
• quem depende de edição genérica
• quem não constrói marca pessoal
• quem tenta competir com IA no terreno da IA
Por outro lado, amplifica o valor de quem entende luz, direção, marca, experiência e sabe trazer a IA para reforçar o próprio trabalho, e não substituí-lo.
O caso da CNET não é só uma curiosidade tecnológica.
É um lembrete de que o mercado mudou.
E também um mapa para quem quer atravessar essa transição com mais clareza.
Para quem quer se preparar de verdade
Na comunidade Fotograf.IA + C.E.Foto, a análise completa inclui:
• o que realmente está ameaçado pela IA no Brasil
• os cinco serviços híbridos que mais crescem
• como construir diferenciação real na era da IA
• como preservar identidade e narrativa usando IA
• como reposicionar seu negócio para 2025 e 2026
Se você quer atravessar essa mudança preparado, e não sozinho, o melhor caminho está aqui.
Conheça a comunidade Fotograf.IA + C.E.Foto