Mais um capítulo dramático na história da icônica Kodak

Leo Saldanha
12 de ago.
3 min de leitura

Resultados financeiros negativos e risco de encerrar operações colocam a marca diante de um novo desafio histórico

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Poucas marcas estão tão ligadas à história da fotografia quanto a Kodak. Fundada oficialmente em 1892, mas com raízes que remontam a 1879, a empresa ajudou a transformar a fotografia de um processo técnico e restrito a poucos para algo acessível ao grande público. Seu slogan icônico “Você aperta o botão, nós fazemos o resto” marcou gerações e consolidou uma relação afetiva com fotógrafos e consumidores no mundo todo.

O anúncio feito nesta semana acende um alerta grave: a Kodak, aos 133 anos, informou que pode não ter condições de continuar operando. No seu mais recente relatório, a empresa reconheceu não ter “financiamento comprometido ou liquidez disponível” para cobrir aproximadamente US$ 500 milhões em dívidas que vencem em breve, levantando “dúvidas substanciais” sobre sua continuidade.

Queda acentuada no 2º trimestre

Os resultados divulgados em 11 de agosto mostram um cenário preocupante. As ações da Eastman Kodak despencaram 10% após o anúncio de um prejuízo líquido de US$ 0,36 por ação no segundo trimestre de 2025, revertendo o lucro de US$ 0,23 por ação no mesmo período de 2024.

A receita recuou para US$ 263 milhões, queda de 1% na comparação anual. O lucro bruto caiu 12%, para US$ 51 milhões, enquanto o EBITDA operacional encolheu 25%, para apenas US$ 9 milhões. A posição de caixa também se enfraqueceu, passando de US$ 201 milhões no final de 2024 para US$ 155 milhões em junho deste ano.

Segmentos tradicionais como Impressão registraram queda, enquanto áreas como Materiais Avançados, Químicos e Licenciamento de Marca tiveram leve crescimento. O CEO Jim Continenza destacou que a instalação farmacêutica da empresa já está registrada na FDA, sinalizando que a diversificação para além da fotografia segue como aposta.

De líder absoluta à sobrevivência incerta

Durante décadas, a Kodak foi praticamente sinônimo de fotografia. Na década de 1970, chegou a deter 90% do mercado de filmes e 85% das vendas de câmeras nos Estados Unidos. Criou produtos lendários, como o filme Kodachrome, eternizado até em música de Paul Simon.

O paradoxo é que a própria Kodak inventou a tecnologia que mudaria o rumo da fotografia. Em 1975 apresentou a primeira câmera digital, mas não soube capitalizar essa inovação e acabou sendo engolida pela transição ao digital. Em 2012 entrou com pedido de falência, acumulando US$ 6,75 bilhões em dívidas.

Nos últimos anos, buscou se reinventar, incluindo uma inesperada incursão no setor farmacêutico em 2020. Apesar das iniciativas, os números mais recentes mostram que a empresa ainda enfrenta enorme dificuldade para encontrar estabilidade.

Jesus Audon hialgo/Unsplash

Uma marca icônica, mas fragilizada

O momento atual reforça que, mesmo após inúmeras transformações, a Kodak continua presa a um ciclo de reinvenções forçadas. A suspensão de pagamentos de aposentadorias e o uso de fundos excedentes para reduzir dívidas mostram que a sobrevivência está no centro da estratégia.

Seja qual for o próximo passo, este é mais um capítulo dramático na trajetória de uma marca que moldou a fotografia como a conhecemos e que, mesmo em crise, ainda carrega um peso simbólico imenso no imaginário visual global.

Veja também >>> Kodak e o poder do legado: por que marcas continuam vivas na cultura mesmo fora do topo da fotografia

📄 Fontes: CNN | Investing.com

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