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Caminhos além do Éden: distopia visual depois de Dante – Parte I: o Inferno

Por Júlia Godoy - Fevereiro/2024 - Obras de Marília Piezaroli


Criações de Marília Piezaroli


A “Divina Comédia” (1308-1321) de Dante Alighieri visita direta ou indiretamente o imaginário Ocidental por séculos. Grosso modo, o poema traz uma visão do pós-vida e das passagens pelas quais Dante faz no Inferno, no Purgatório e no Céu. A obra fala não somente de recompensas e punições, mas do estado de alma do poeta (e dos homens em geral) e de como hábitos e vicissitudes também são produtos de um tempo. Além da notória herança para a literatura, essa obra também forneceu subsídios para grandes pintores e artistas ao longo das épocas: de Botticelli a Gustave Doré. A obra resiste.


É por meio da permanente força estética do clássico de Dante que a artista Marília Piezaroli nos traz uma leitura extremamente contemporânea desse importante trabalho evocando sofisticadas simbologias da Baixa Idade Média para aquilo que se entende de mais atual do ponto de vista da arte e da tecnologia. Marília atua e investe na fotografia digital e Inteligência Artificial, valendo-se também de seu repertório e erudição para refletir sobre o que há de mais urgente e fresco nos debates mundiais, seja em arte ou política, economia ou ciência: a mudança climática.


A urgência do tema e a potência da referência em Dante tiram o expectador de um apático

estatismo visual e o destina a um lugar ativo na experiência da arte. Ou o que vemos não nos comove, choca ou perturba? Marília usa com perspicácia os recursos que tem em mãos e nos provoca: até que ponto iremos negar o que já sentimos, vemos e ouvimos? Ela apela pela sofisticação simbólica da releitura do clássico para nos desviar de um hipnotismo frio e

desinteressado. A artista nos convida a percorrer ao lado de Dante um cenário quase pré-

apocalíptico cheio de sinais sobre os vícios adquiridos ao longo dos séculos. A passagem pelo Inferno é o início de uma jornada em que todos somos convidados a olhar de frente para nossas fraquezas e compulsões, as quais colocam tantos seres em risco, inclusive a nós mesmos.


Júlia Godoy – artista visual, fotógrafa e pesquisadora do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (doutorado); tem graduação em Literatura e Língua Russa (USP) e em Fotografia. Seu mestrado se desenvolveu na linha de Métodos e processos em Arte Contemporânea (UnB). E, atualmente, atua na linha de pesquisa de Teoria e História da Arte.


Marília Pierazoli é uma artista plática e fotógrafa que combina diferentes meios (pintura, fotografia digital) e agora vem explorando as possibilidades criativas com a IA. Marília tem um trabalho sensível e muito intimista e agora expande suas possibilidades artísticas com essa tecnologia revolucionária da inteligência artificial.

Instagram @lilapierazoli





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