A armadilha dos 100 Megapixels: Leica, Hasselblad e o Olhar Humano | Primeiro Plano

Da corrida tecnológica da Hasselblad e Leica à pureza do olhar adolescente. Um giro pelo que importa na fotografia nesta semana, incluindo as exposições de Araquém Alcântara e Poços Analógica.

A fotografia vive de ciclos, e o desta semana é vertiginoso. De um lado, a indústria empurra os limites técnicos com sensores gigantes e inteligência artificial; do outro, a cultura visual puxa o freio, valorizando processos manuais, olhares inocentes e a experiência física de ir a uma exposição.

Nesta edição do Primeiro Plano, organizei esse cabo de guerra entre o pixel e a intenção para você entender não apenas o que foi lançado, mas o que isso significa para o seu olhar.

1. Tecnologia: A corrida dos números vs. O processo manual

A indústria de câmeras decidiu terminar o ano acelerando. A Hasselblad movimentou o mercado com discussões sobre como seu sistema de 100 megapixels muda a forma de trabalhar, enquanto a Leica soltou atualizações parrudas de firmware e um boost de resolução na SL3. É impressionante? Sem dúvida. Mas levanta a velha questão: estamos comprando resolução ou visão?

Na contramão desse tecnicismo todo, vale olhar para a conversa recente entre o diretor Rian Johnson e o cinegrafista Steve Yedlin. O ponto deles é cirúrgico: quando a tecnologia digital resolve tudo sozinha, a imagem fica "boa" por padrão, mas perde a alma. A luta hoje não é por qualidade, é por intenção.

Talvez por isso os vídeos de restauração do Julian Baumgartner continuem viralizando (saiu mais um impressionante nesta semana). Ver alguém recuperar um retrato histórico pincelada por pincel, sem Ctrl+Z, é o antídoto mental que a gente precisa para essa overdose de specs digitais.

2. O Olhar: Quem está fotografando melhor?

Dois prêmios recentes mostram extremos opostos da fotografia hoje. De um lado, o Oppo Photography Awards 2025 reforça como a fotografia móvel e globalizada dita padrões estéticos rápidos. Do outro, e bem mais interessante, estão os vencedores adolescentes do RSPCA Young Photographer Awards.

As fotos de animais feitas por esses jovens dão uma lição em muito profissional. Enquanto o mercado busca a edição perfeita, esses garotos ganham pela paciência de ficar horas no jardim esperando o bicho aparecer. O olhar deles ainda não foi "domesticado" pelos likes. Vale buscar os vencedores para lembrar como é fotografar com curiosidade pura.

3. Brasil: A fotografia acontece no chão (Exposições)

Enquanto a internet discute pixels, o Brasil está com uma agenda física fortíssima, lembrando que lugar de foto é na parede e no papel.

• Minas Gerais: O festival Poços Analógica em Poços de Caldas segue aberto até janeiro. É resistência pura: celebrar o filme e o processo lento em 2025 é um ato político e estético.

• Ceará: O Museu da Fotografia de Fortaleza movimentou o fim de semana unindo arte e música, reforçando que museu não é lugar de coisa morta, é espaço de convivência.

• Amazônia e Meio Ambiente: Dois gigantes estão em pauta. Araquém Alcântara lança obra-manifesto, uma crônica visual que mistura a beleza e o horror da questão ambiental brasileira. Ao mesmo tempo, a mostra que une o fotógrafo japonês Hiromi Nagakura e o líder Ailton Krenak retrata a vida na Amazônia com a intimidade de quem viveu junto, não de quem apenas visitou.

Resumo da ópera:

A semana prova que a fotografia vive um cabo de guerra. De um lado, a tecnologia empurrando para o mais rápido, mais nítido e mais digital (Leica, Hasselblad, Oppo). Do outro, a cultura puxando de volta para o humano, o analógico e o presencial (Baumgartner, Poços, Araquém). Em qual lado da corda você está segurando?

Até a próxima.

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