A história da foto da "mulher do beijo" mostra como a fotografia pode ser encenada e ainda assim ser icônica
A famosa foto do beijo em Paris
Essa eu li em matéria recente no The Guardian:
Françoise Bornet, que aos 20 anos foi retratada beijando seu namorado na frente do Hôtel de Ville em Paris, faleceu aos 93 anos. A foto, tirada pelo renomado fotógrafo Robert Doisneau, foi publicada pela revista Life e depois se tornou um sucesso mundial de vendas em pôsteres e produtos.
Bornet era uma estudante de teatro que aceitou posar para Doisneau junto com seu namorado, Jacques Carteaud, em vários locais de Paris. Eles se separaram depois e ela se casou com outro homem. Carteaud também se casou e virou enólogo. Ele morreu há alguns anos.
A foto foi encenada por Doisneau, que foi contratado para ilustrar o amor em Paris. Ela gerou polêmica quando vários casais alegaram ser os modelos e processaram o fotógrafo por direitos de imagem. Bornet foi reconhecida como a verdadeira protagonista, mas não recebeu nenhuma compensação financeira. Ela disse que ficou magoada com as falsas reivindicações, que roubaram suas memórias de juventude.
Em 2005, ela leiloou uma cópia da foto que Doisneau lhe deu e arrecadou mais de € 150.000. Doisneau, que morreu em 1994, foi um dos maiores fotógrafos do século XX, conhecido por capturar cenas da vida cotidiana em Paris e na França com sensibilidade e poesia.
Carteaud, que morava no centro da França, morreu há vários anos. Quando ele tinha 65 anos, depois de ler um artigo sobre a comercialização da fotografia, ele ligou para o Le Monde lamentando que esse pedaço da história fotográfica poderia ser feito todo sobre dinheiro.
A parte final da matéria me chamou muito a atenção:
Em uma carreira que abrange décadas, Doisneau capturou cenas cotidianas em Paris e seu banlieue, e em toda a França, bem como projetos mais distantes, como Palm Springs na década de 1960. Ele disse à publicação Entre Vues em 1990: “O mundo que eu tentei mostrar era um mundo onde eu teria me sentido bem, onde as pessoas eram gentis, onde eu encontrei a ternura que eu quero receber. Minhas fotos eram como prova de que o mundo poderia existir.”
É sempre fascinante saber das histórias das fotos. O fato dela ter sido encenada não tira sua força icônica. A visão do artista prevalece e é fato que isso vale tanto para fotografia, vídeo e agora com IA. Mesmo sendo uma criação não espontânea, ela retrata o "mundo ideal de Doisneau". Serve de inspiração para qualquer artista como um chamado simples e poderoso: qual mundo você quer mostrar?
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