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Marcos Credie: a fotografia como ferramenta para contar histórias



Uma vocação pela fotografia que é impulsionada pela curiosidade. Mais do que isso, pela oportunidade sempre instigante de conhecer novos lugares e contar histórias distintas. Marcos Credie tinha uma carreira de 10 anos como advogado, mas desde criança a fotografia o seduzia: “lembro quando ganhei uma Kodak como presente de aniversário do meu pai. Eu tinha uns 8 ou 9 anos e fotografar me pareceu fascinante” conta. Ele então mergulhou na nova jornada agora como fotógrafo. Começou com viagens e a partir disso surgiu um estilo mais autoral, algo que segue com ele para atender clientes corporativos e projetos especiais. Aliás, essa é a marca dos melhores fotógrafos, os que mesclam bem a assinatura visual sabendo entregar o que as marcas e pessoas anseiam.



O fotógrafo Marcos Credie

Com 10 anos de bagagem na fotografia, agora Credie embarcou em uma nova fase conectada com inteligência artificial e blockchain. Ele conta nesta entrevista como foi sua trajetória e os novos projetos na fotografia. Confira:



Site >>> Marcos Credie




FHOX - Como começou na fotografia? Conte um pouco da sua jornada!


Marcos Credie - É difícil definir o começo. Mas lembro quando ganhei uma Kodak como presente de aniversário do meu pai. Eu tinha uns 8 ou 9 anos e fotografar me pareceu fascinante.


Mas quando, de fato, a fotografia tomou conta da minha vida, foi em uma expedição de carro que fiz pela América do Sul, precisamente para o Chile e Peru, atrás das ondas geladas do Oceano Pacífico.


Estávamos em quatro amigos e não me sentia confortável para dirigir a Land Rover Defender pelas estradas sul-americanas. Logo, fui o responsável pelo registro da Trip. E foi aí que tudo mudou.


Para esse registro tínhamos uma Sony Cybershot de 3.1 MP e também uma Pentax K 1000, e foi com ela que me apaixonei de fato pelo poder de contar histórias através das imagens. Mesmo com o fotômetro quebrado. As fotos dessa viagem viraram a minha primeira exposição fotográfica: “Expedição América do Sul”.


A novela se estende quando entrei no curso de Direito e fiquei 10 anos construindo uma carreira como advogado. Especializações, investimentos, gravata... mas após alguns anos na profissão, sair da cama ficava cada dia mais difícil. Uma enorme depressão bateu por viver o dia imerso em algo que não me tocava em nada. Até o momento que ficou insuportável.


Quando o medo da infelicidade ficou maior que o medo de trocar de profissão eu me lancei (pois já fotografava muito amadoramente) em uma viagem por 100 dias na Ásia fotografando. E esse foi o pontapé inicial de uma nova vida, ainda em 2013.





FHOX - O que te move neste trabalho nesta jornada de 10 anos de carreira?


Marcos Credie - Minha motivação tem dois alicerces: o primeiro é o prazer gerado ao criar uma foto que considero – dentro das minhas concepções – boa. É muito gratificante. Independente se autoral ou comissionado.


O segundo, e não menos importante, é enxergar na fotografia um poder imenso para contar histórias. Acho que é isso: sou movido por criar imagens que me dão prazer. E pelo poder de comunicação que elas carregam.



Carnaval de rua em São Paulo. Muitos anos cobrindo a festa




FHOX - Quais foram as grandes transformações e desafios que nota na sua vivência no mercado?


Marcos Credie - Sempre me considerei um “outsider” por ser um advogado que deixou a profissão por uma paixão. Não tenho curso técnico ou faculdade na fotografia. Aprendi errando. Então levei muito tempo para me considerar um profissional na área. E talvez essa tenha sido a minha grande mudança: primeiro mudar a chave de dentro. E depois comunicar isso olhando para fora.


Quando me deparei com o mercado fotográfico fui caminhando de maneira intuitiva. Vendendo fotos e, posteriormente filmes, de uma maneira bem simples. Prestador de serviço mesmo.


Aos poucos fui me conectando com o universo de agências e empresas que precisavam de um conteúdo mais humanizado focado no storytelling, justamente para onde meu olhar corria. E desde então comecei a atender empresas com tamanho: Nestlé, Santander, Ypê, Bombril entre outras.


A pandemia, no entanto, deu uma chacoalhada em tudo. O mercado sentiu o impacto e virou uma bagunça. Até hoje, quando recebo um briefing para orçamento, sinto as duas pontas perdidas em relação a qualquer projeto. Cachê, produção, timing...


Hoje a celeridade do resultado assombra. Praticamente ofereço, além do produto final pelo qual sou contratado, fotos e filmes durante a sua produção para clientes postarem nas redes. O conteúdo tem que ser quente.


E mais recentemente a Inteligência Artificial entrou rasgando tudo. Tem muita gente intimidada com as “n” possibilidades que a ferramenta oferece. Mas eu ainda acredito que o erro, a peça humana falha por trás da câmera, ainda é fundamental na criação das imagens. E entender a forma que essa inteligência vai nos servir é o grande barato dessa revolução.






FHOX - Conte de projetos que te dão orgulho. Alguns dos trabalhos que fez e que curtiu muito.


Marcos Credie - Tenho alguns trabalhos autorais dos quais me orgulho bastante. Viagens pela Ásia, Nordeste do País ou relacionados ao Carnaval aqui em SP mesmo. Mas um que tenho um carinho é o “Arriba Peru!”. Durante a Copa do Mundo de 2018 fui acompanhar como as comunidades andinas peruanas – descendentes diretos dos povos originários Quechuas -- assistiram a seleção nacional de seu país competindo pela primeira vez no torneio mundial, afinal há 36 anos não se classificavam para a Copa.


O resultado mostra uma nação orgulhosa, cheia de si, com jovens unidos de olhos brilhando e vivenciando a magia do futebol muito comum para nós. Foi um projeto incrível, uma vivência sem igual e que além das fotos me rendeu momentos que nunca vou esquecer.


Sobre o Carnaval de Rua paulistano, que praticamente teve uma explosão na última década, eu também tenho extenso trabalho cobrindo alguns dos grandes blocos da cidade. Além de fotografar toda a parte artística, trago toda a evolução da estrutura. Uma narrativa que pode ser construída inclusive pela própria perspectiva da municipalidade para o evento de rua, que passou a ser muito mais ocupada após o renascimento dessa festa coletiva.







FHOX - Você tem um trabalho autoral que para você também é muito importante. O quanto isso te alimenta na fotografia?


Marcos Credie - Meu trabalho autoral é a minha guia, o meu norte. Eu realmente sinto muita falta de sair com a câmera na mão e exercitar o meu olhar, buscando imagens que façam sentido pra mim. Acho que me facilita muito ao pegar um briefing e entender a forma como vou viabilizar. Acabamos estudando tanto referências e bebendo de outras fontes que, muitas vezes, é fácil nos perdermos ante um mundo tão imagético. Trabalhar o autoral é justamente agarrar às suas próprias raízes.





FHOX - Como vê os avanços dos NFTs e da inteligência artificial na fotografia?



Marcos Credie - A inteligência artificial já é realidade. Mal nos recuperamos do susto da sua chegada e já tenho usado Midjourney como plataforma para produção de referências, shooting board e cenários. É uma inovação, sem dúvida alguma.


Recentemente desenhei um shooting onde metade das fotos são mescladas “realidade” com inteligência artificial e o resultado ficou incrível.

Aprender a guiar e direcionar a plataforma para os melhores resultados é a grande sacada. E confesso não ter medo da revolução. Não acho que ela irá substituir a máquina humana, repleta de sentimentos, por trás da câmera. É saber usar e entender a tecnologia como uma aliada. O ponto é: ela te serve, e não o contrário.


E os NFTs entram nessa seara da inovação. Se há 10 anos atrás pensássemos que pessoas vão pagar pela titularidade de uma obra digital as pessoas dariam risada. Só que elas se esqueceram que pagavam para comprar lotes e animais no Farmville.. rs


A propriedade digital é uma realidade. E mais que isso, é enorme e está crescendo a cada dia. Entrei no mercado de NFTs por entender ser muito mais amplo do que o mercado de prints, por exemplo. As possibilidades não se limitavam a uma obra na parede. E as grandes companhias já estão olhando para isso. Seja colecionando ou produzindo conteúdo em NFTs para seus clientes.


Com criatividade é possível criar campanhas incríveis entre os dois universos.





FHOX - O que diria para alguém que está começando na fotografia agora?


Marcos Credie - Eu sou muito suspeito para dar conselhos sobre fotografia. Eu amo o que faço. Mas o conselho é, na verdade, o toque que dou aos meus alunos quando faço meu curso sazonal de fotografia digital: se você gosta de fotografia, pega uma câmera – seja de celular ou não - e pensa antes de fazer uma foto, você já é um fotógrafo. Agora é com você entender a plataforma que quer investir e aprender para evoluir o seu olhar.






FHOX - O período da pandemia foi muito desafiador. Que avaliação faz disto?


Marcos Credie - A pandemia foi desafiadora para o planeta terra. Fato é que não somos mais os mesmos. O universo mudou, a civilização mudou por que as pessoas mudaram.


No meu caso, o desafio começa com um mercado paralisado pela impossibilidade da presença - e que coincidiu com a chegada do meu filho João, nascido na primeira semana de lockdown. Ou seja, meu custo mensal triplicou, e a fonte de renda secou. Foi bem desesperador.


E num segundo momento a impossibilidade de sair por aí com a câmera embaixo do braço. A conexão fotógrafo fotografado ficou impossibilitada por um bom tempo. O exercício do clique e da composição ficou atrofiado. E senti muita falta em fotografar fora do espaço do meu apartamento.






FHOX - O que mais curte no seu trabalho e que equipamentos tem usado para criar?



Marcos Credie - A fotografia me permitiu conhecer lugares e pessoas antes inconcebíveis. Há quase uma década fotografo personalidades que tenho uma grande admiração. Um exemplo: durante a pandemia fiz um Documentário sobre o processo de Alceu Valença na criação e gravação de seus álbuns criados sob lockdown e que renderam a ele um Grammy. Isso se tornou possível pela relação criada através da fotografia.


Indo além, trabalhando fui a lugares interessantíssimos: Bangladesh, índia, Nepal...


Sobre meus equipamentos, o meu set de câmera e lentes para fotografia é bem básico: corpos e algumas lentes Prime Canon. Para filmes, no entanto, trabalho com uma câmera com taxa de bit bem alto, e meu jogo de lentes, embora conservadíssimo, é mais velho que eu. O resultado é uma linguagem cinematográfica.


Também, a gama de difusores e iluminação que não pode faltar. Nós, fotógrafos brasileiros, partimos de um alto investimento para trabalhar com qualidade. Eu diria que raramente os clientes enxergam todo esse valor agregado numa proposta e resultado final do trabalho. Uma pena.





FHOX - Você não só fotografa, mas também filma e dirige. O artista visual e profissional da imagem precisa ser mais completo?


Marcos Credie - A minha trajetória com filmes também começou muito cedo. Porém, através de um caminho paralelo.


Como disse, eu tenho facilidade em escrever. Mas principalmente sobre criar narrativas. E lá atrás, ainda testando e tentando me achar no universo audiovisual, comecei a escrever roteiros publicitários e de conteúdo para uma produtora.


Por fotografar, não demorou até eles começarem a me soltar em alguns trabalhos com uma Câmera na mão. Disso, justamente pela capacidade em pensar e trazer à imagem uma idéia, passei a dirigir alguns conteúdos menores. Num processo pessoal, ainda muito experimental e intuitivo.


Hoje, alguns (vários) anos depois, dirijo filmes maiores, com equipes robustas e clientes com tamanho. Mas também viabilizo filmes menores. Muitas vezes apenas eu e um assistente. O mercado mudou e temos que nos adaptar.


Queria muito apenas fotografar. O processo fotográfico é mais célere. A história toda contamos em um clique, ou em uma dezena, quando muito. Mas filmar também é muito gostoso. E não acredito que um fotógrafo hoje consiga apenas se limitar ao clique em um mundo imagético, onde as possibilidades digitais para se comunicar não param de se reinventar e ampliar.


Sinto que ter uma visão 360 de todas as áreas: fotografia, filme, edição, finalização, diferentes plataformas de conteúdo me coloca adiante. Eu não seria o mesmo fotógrafo se não tivesse o olhar para os vinte quatro quadros por segundo.


Hoje, com a Inteligência Artificial, é inimaginável sentar e ver a banda passar. Eu me agarro aos novos formatos e estou sempre oferecendo formas de trabalhar em acordo com o que o mercado busca.









O que está preparando para 2023 em termos de projetos e novidades?


Marcos Credie - 2023 é o ano em que completo uma década na profissão de fotógrafo. Uma década que passou voando e eu mal percebi.


Quando olho para trás e vejo a caminhada me dá uma coceira no corpo e uma voz dentro de mim grita: “não pode deixar isso passar em branco! Não deixa!” Então, no turbilhão de ideias começo a desenhar algum conteúdo para soltar muito em breve. Alguma exposição ou publicação, digital ou não, celebrando essa década, ainda não sei... mas não passará em branco.





FHOX - Qual seu grande sonho?


Marcos Credie - Meu grande sonho é uma ótima pergunta. Nem eu sei. Mas certa vez, estava num vilarejo no meio do Himalaia olhando na minha frente uma das maiores montanhas do Planeta Terra. A minha insignificância diante daquilo me colocou em segundos num profundo sentimento de presença. De repente, eu fazia parte daquele cenário, e me sentia extremamente completo.


Talvez o meu sonho é ter a sorte de sentir mais vezes aquela sensação. Levar a mão à cabeça e sentir a ficha caindo num estado de graça. Momentos que apenas conexões reais podem nos proporcionar.




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