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Fotos rasgadas, pixels e uma última Polaroid

Quando a fotografia de papel bate de frente com a IA que promete restaurar o passado, e expõe tudo o que continua irremediavelmente humano.


Este post é patrocinado por Fotto, líder em vendas de fotos com tecnologia inteligente, e por Alboom, referência em sites, automação e marketing para fotógrafos(as).


Aviso de spoiler


Se ainda não assistiu ao episódio “Eulogy” (temporada 7 de Black Mirror), pare aqui, dê play na Netflix e volte depois. Este artigo mergulha fundo nos detalhes.


Falar de quem se foi já é difícil; falar quando as lembranças doem é quase impossível. Em “Eulogy”, essa tarefa delicada acaba terceirizada para uma inteligência artificial que promete organizar saudades como quem monta um slideshow. E que no fim descobre que coração amassado não cabe numa planilha de dados.

É exatamente o que acontece com Phillip Connarty, o protagonista vivido por Paul Giamatti: um senhor recluso, rodeado por um mar de objetos analógicos. Tem telefone de disco, fitas cassete, caixas e mais caixas de Polaroids. Ele é praticamente um museu ambulante em tempos de nuvem ilimitada.

A trama é simples e cruel: Carol, o grande amor que ele “apagou” da vida (literalmente recortando seu rosto de cada foto), morre. A empresa Eulogy lhe liga oferecendo uma homenagem imersiva: basta ceder suas memórias que a máquina faz o resto. Phillip topa a contragosto, entrega três fotos rasgadas, quando poderia enviar 1500 imagens para reconstruir aquela história. Como quem posta apenas o que cabe num feed filtrado, ele controla o estrago.


E se você pudesse entrar nas suas fotos? Com uma IA acompanhando tudo te guiando...
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A IA que acompanha nas jornadas dentro das fotos. "Não fui codificada, mas sim gerada"
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O último analógico

O contraste não poderia ser mais Black Mirror: no mesmo cômodo em que o telefone com fio chia chiados de ligação interurbana, um drone pousa na soleira trazendo um kit high-tech. É o futuro invadindo a sala de estar do passado. E, nesse embate, percebemos algo incômodo: Phillip não rejeita tecnologia por nostalgia romântica; ele a evita porque mexer nas memórias dói. Rasgar uma foto é fácil; encarar o que sobrou, nem tanto.



Segurando a vela (digital) do próprio luto

A IA que o guia tem rosto e voz de Kelly, filha de Carol – um “cookie” cheio de trejeitos humanos. Ela questiona cada versão que Phillip conta de si mesmo: “Será que ela te traiu ou só cansou de tocar teclado na sua banda porque você não a deixava levar o cello?” É nessa conversa que o episódio brilha. Não estamos vendo um robô polido; estamos vendo um espelho, um estranho mix de psicóloga e algoritmo que força o protagonista (e nós) a admitir: o passado raramente é a narrativa que contamos a nós mesmos.



A foto rasgada, a carta perdida

Quando Phillip descobre a carta que Carol deixou – escondida por décadas numa mala, acusando o pó – entendemos o golpe: ela estava grávida de Kelly, fruto de uma “escapada” em resposta à traição dele mesmo. O recado oferecia recomeço; ele ignorou porque preferiu quebrar garrafas de champanhe num quarto de hotel. Ao rasgar fotos, rasgou o próprio futuro.

A sequência em que a IA coloca Phillip dentro da última Polaroid intacta é cinematograficamente simples e emocionalmente devastadora: ele entra, literalmente, na cena, substitui o “eu” jovem e finalmente vê o rosto que arrancou. Dá para sentir o peso daquela fita cassete tocando cello, um som analógico que, ironicamente, a tecnologia precisou ressuscitar.


Antes de abrir a carta, Phillip faz uma breve peregrinação que diz muito sobre o personagem: ele pega uma câmera descartável esquecida numa gaveta, dispara o único quadro restante e vai até uma loja de revelação que milagrosamente ainda resiste no futuro. É um ritual lento, quase litúrgico. Enquanto a atendente mergulha o filme em química, um cheiro que qualquer fotógrafo reconhece, percebemos que ele tenta provar a si mesmo que ainda há processos que não podem ser acelerados por um clique. Voltar com aquele envelope de papel fotográfico nas mãos é como trazer um relicário: contraponto palpável à montanha de dados digitais que Eulogy analisará em segundos.


Fotografia impressa × feed infinito

Talvez o ponto mais provocador de “Eulogy” seja lembrar que memórias físicas têm limite. Rasgou, acabou. Num mundo onde duplicamos arquivos ao infinito, a foto de papel mantém algo que a IA de altíssima resolução ainda não domina: a fragilidade da experiência. Imagens impressas pedem cuidado, envelhecem, ganham manchas que contam outra história. É uma tecnologia “orgânica”, mais perto da carne do que do silício.



IA como empatia...ou performance?

Kelly-cookie deixa a pergunta no ar: empatia simulada vale tanto quanto a original? Phillip chora na frente de um avatar que, no fundo, executa linhas de código. Mas quem está mais preso ao script: o algoritmo ou o velho senhor que passou a vida encenando mágoas? O episódio sugere que a linha é tênue. Podemos programar máquinas para nos ouvir, mas só nós decidimos se as ouviremos de volta.






Funeral, segundo ato

No ato final, Phillip atravessa o Atlântico para assistir ao funeral de Carol. Kelly real toca cello, ergue os olhos e o reconhece – ou será impressão dele? A série não responde. Deixa pairar aquela eletricidade que sentimos quando encontramos um desconhecido que, por algum motivo, já parece íntimo. Talvez seja a memória querendo segundas chances. Talvez seja só esperança.


O golpe de luz na última cena

E aqui vai o disparo que fica na retina: Phillip não recebe perdão nem redenção automática. Ele recebe, no máximo, a possibilidade de tentar. A IA abriu a porta, mas o passo é dele. E, quando a tela escurece, a pergunta sobra pra gente:

Se a tecnologia lhe entregasse todas as fotos que você rasgou da vida, você as colaria de volta ou deixaria o buraco dizendo quem você foi?

“Eulogy” termina como aquele estalo do flash em filme analógico: rápido, quente e levemente dolorido. Um lembrete de que, por trás de cada pixel ultra-definido, ainda lateja o negativo imperfeito daquilo que somos – e que nenhuma nuvem, por maior que seja, consegue armazenar sem perda de dados chamada emoção.

Para mim, esse é um dos melhores de todas as temporadas de Black Mirror. Se não viu, veja e reflita.


A propósito, já existem IAs que permitem você subir uma única imagem e a inteligência artificial gera um universo inteiro para ser explorado. A parte da imersão também avançou muito inclusive com recriações que são mostradas na série. Claro, ainda não no mesmo nível, mas parece uma questão de tempo. Por outro lado, nada, absolutamente nada vai superar pegar a foto na mão e lembrar do jeito que a gente sempre fez.



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