Adobe entre a inovação e a sombra da IA
- Leo Saldanha
- 2 de out.
- 2 min de leitura
Entre promessas de novas ferramentas acessíveis e a pressão de investidores, a gigante do Photoshop enfrenta um ponto de virada em sua história.

A Adobe anunciou nesta semana o lançamento do Photoshop Elements 2026 e do Premiere Elements 2026, versões simplificadas de seus softwares que agora chegam turbinadas com recursos de inteligência artificial. A proposta é clara: levar o poder do Photoshop e do Premiere a um público mais casual, que deseja edições rápidas e intuitivas sem precisar dominar curvas de aprendizado complexas.
Recursos como restauração de fotos antigas, remoção automática de elementos indesejados e até a possibilidade de criar cenários inteiros a partir de descrições mostram o esforço da Adobe em posicionar a IA como assistente criativa invisível no processo de edição.
Mas o otimismo não se reflete no mercado financeiro. Quase em paralelo ao lançamento, o banco Morgan Stanley publicou um relatório rebaixando a projeção de valor das ações da Adobe. O argumento central é que a companhia tem falado muito sobre inteligência artificial, mas entregado pouco em termos de monetização e inovação real.
Enquanto concorrentes como Canva, Google e Meta já conseguem associar suas ferramentas de IA a crescimento direto de receita, a Adobe ainda luta para converter entusiasmo em resultados financeiros concretos. O preço-alvo das ações caiu de US$ 520 para US$ 450, mas mesmo esse patamar parece distante da realidade atual: no início de outubro, os papéis estavam abaixo de US$ 350.
Esse contraste expõe o dilema da marca. Por um lado, a Adobe busca democratizar a criação com versões acessíveis e cheias de IA; por outro, enfrenta a desconfiança de investidores e o incômodo de uma comunidade de artistas que veem a empresa abrir espaço a ferramentas externas como o Nano Banana e o Flux.
Ao mesmo tempo, o ecossistema em torno da Adobe já se articula em várias direções: ferramentas como Evoto e Aftershoot se integram aos programas da marca ao mesmo tempo em que se apresentam como alternativas; já softwares como o Luminar Neo deixam claro que são rivais diretos, disputando a atenção de fotógrafos e editores.

Depois de décadas de quase monopólio no mercado criativo, a Adobe começa a experimentar algo parecido com um “Momento Kodak” no sentido dos dilemas de inovação: aquela sensação de que a liderança pode não ser eterna se a adaptação não for rápida e consistente.
Entre lançamentos que miram novos criadores e a pressão implacável dos investidores, a empresa caminha em uma corda bamba. Só o tempo vai mostrar se a gigante do Photoshop continuará sendo referência ou se dará espaço para que uma nova geração de softwares assuma o protagonismo.
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