A polêmica da nova capa da Vogue com Timothée Chalamet e Annie Leibovitz: quando a autoria incomoda mais que a IA
- Leo Saldanha

- 12 de nov.
- 2 min de leitura
Atualizado: 13 de nov.
A mais recente capa da Vogue reacende o debate sobre o limite entre o estilo autoral e o gosto coletivo. Algo que mostra como até uma lenda como Annie Leibovitz enfrenta o tribunal das redes.

Este é um dos textos que nasce do mesmo espírito que guia a comunidade Fotograf.IA+C.E.Foto, onde pensamos fotografia com profundidade, estratégia, IA e propósito.
A fotografia sempre foi um espelho do tempo e, às vezes, um espelho que ninguém quer encarar. Quando Vogue publicou sua capa de dezembro com Timothée Chalamet, fotografado por Annie Leibovitz, a intenção era clara: criar uma imagem cósmica, quase mítica, de uma estrela em ascensão. O resultado, no entanto, foi uma tempestade digital.
Nas redes, os comentários variaram entre ironia e indignação. Muitos chamaram a foto de “feita por IA”, outros compararam à estética de um PowerPoint dos anos 2000. O que deveria ser uma homenagem ao glamour interplanetário de Duna virou meme.
Mas o ruído não apaga o essencial: há algo profundamente humano (e arriscado) em ver uma fotógrafa octogenária ainda disposta a provocar desconforto. Leibovitz não busca o consenso. Nunca buscou. Seu trabalho com luz, encenação e narrativa visual há décadas divide opiniões, justamente porque ela ocupa o lugar que poucos têm coragem de assumir: o da autoria inconfundível.
Hoje, quando qualquer imagem pode ser gerada, corrigida e “melhorada” por algoritmos, o que incomoda talvez não seja o suposto erro, mas o gesto autoral. A imperfeição calculada. A recusa em entregar algo “bonito” e previsível.
Há quem diga que o tempo de Leibovitz passou, que é hora de “dar espaço” a novos nomes. Mas, como escreveu Picasso, “leva-se uma vida inteira para pintar como uma criança”. Leibovitz parece entender isso: continua a brincar, a testar, a errar em público e a vencer justamente por isso.
Enquanto muitos fotógrafos se escondem atrás de filtros e fórmulas, ela segue expondo sua vulnerabilidade criativa diante de milhões. É o preço (e o privilégio) de ser uma autora em tempos de aprovação instantânea.
Aliás, há algo quase cômico nessa reação: Annie Leibovitz é, segundo uma matéria recente, a fotógrafa mais copiada, por inteligências artificiais e por colegas humanos. Entre duzentos nomes, ela segue sendo a referência. Paradoxal, não? O que ela cria hoje pode até não agradar, mas poucos podem se dar ao luxo de errar com tanta liberdade.
No fim, talvez a verdadeira provocação dessa capa não esteja na pose de Chalamet nem nos reflexos digitais do fundo. Está na pergunta que ela nos deixa: ainda queremos ver a visão de um artista ou apenas aquilo que o algoritmo aprova?



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