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A Era da Desconfiança: a fotografia e a arte sob suspeita em tempos de Inteligência Artificial

Atualizado: 13 de nov.

Um prêmio cancelado no Japão e uma obra infiltrada em um museu britânico expõem o desconforto de um mundo onde já não se sabe o que é feito por humanos e o que nasce das máquinas.

A "foto" que perdeu o prêmio no 42º Saitama Prefecture Photo Salon - Criada com IA
A "foto" que perdeu o prêmio no 42º Saitama Prefecture Photo Salon - Criada com IA

Este é um dos textos que nasce do mesmo espírito que guia a comunidade Fotograf.IA+C.E.Foto, onde pensamos fotografia com profundidade, estratégia, IA e propósito.



Na parede do Museu Nacional de Gales, em Cardiff, o retrato de um garoto com um prato vazio no colo chamou atenção por motivos errados. O quadro não constava no catálogo da exposição, mas parecia pertencer àquele espaço de maneira natural. Tinha moldura, etiqueta e título: Empty Plate, assinado por Elias Marrow. Aparentemente, nada fora do comum.



Horas depois, os curadores descobriram que o trabalho era uma criação de Inteligência Artificial. O artista o havia pendurado sem autorização. Ninguém percebeu.


A imagem, gerada por IA, ficaria exposta tempo suficiente para provocar desconforto. Marrow, que se define como alguém que “interfere com a arte”, publicou o feito em seu site e explicou que o retrato simbolizava a fome e o esquecimento de uma geração. O gesto, meio performance, meio crítica, ecoou nas redes como uma pequena sabotagem ao sistema.


Enquanto isso, a quase dez mil quilômetros dali, outro episódio colocava a credibilidade da fotografia em xeque.


No Japão, o jornal Asahi Shimbun anunciou que o vencedor do 42º Saitama Prefecture Photo Salon, um concurso tradicional de fotografia, perderia o prêmio. O motivo era simples, mas devastador para o prestígio do evento: a imagem premiada poderia ter sido criada por uma máquina.


A foto mostrava uma libélula pousada sobre a cabeça de um sapo. Cativante, de composição precisa, parecia o flagrante perfeito. O júri a descreveu como divertida e tecnicamente exemplar. Depois da premiação, usuários começaram a comparar o trabalho com imagens disponíveis em sites de IA. As semelhanças eram incômodas demais.


Confrontado, o autor admitiu que não havia criado a obra. Disse apenas que a havia “submetido”. Nenhuma confirmação sobre o uso de IA foi dada. Ainda assim, o prêmio foi cancelado.


Os organizadores se desculparam publicamente e prometeram criar novas regras para lidar com imagens geradas artificialmente. Uma frase do comunicado ficou como retrato involuntário do impasse atual: “Não podemos afirmar que foi feita por IA, mas podemos afirmar que não foi feita pelo autor.”




Essas duas histórias, contadas quase no mesmo dia, revelam o tamanho da fissura aberta na relação entre imagem e confiança. A fotografia, que durante mais de um século foi tratada como prova, agora é questionada como suspeita.


Museus, concursos e o público estão aprendendo a ver novamente, mas de outro modo. O olhar humano ainda é decisivo, mas talvez não suficiente.


A dúvida, mais do que o erro, é o novo estado natural da imagem.


E no meio dessa turbulência, o que define a autoria? A intenção? O clique? O código?


No fim, talvez a arte e a fotografia estejam sendo obrigadas a responder à mesma pergunta que seus criadores evitam há tempos: o que é, de fato, real?





 
 
 

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