Cássio Vasconcellos - Viagem Pitoresca pelo Brasil # 196, 2023 impressão jato de tinta sobre papel de algodão ed unique 100 x 400 (100 x 200 cm cada)®Flavio Freire
Com curadoria de Ana Maria Belluzo, o artista apresenta dezenove fotografias inéditas, em grande formato, produzidas nos últimos três anos, em que faz uma homenagem às florestas brasileiras, resultado de incursões pelos vestígios de mata atlântica em São Paulo, Paraná, e Rio de Janeiro. No salão com pé direito duplo, um painel curvo, com doze metros de extensão por três de altura, com a imagem de uma figueira da mata gaúcha, dará um caráter imersivo para o público.
Para produzir cada fotografia, muitas vezes o artista leva um dia inteiro de buscas pela luz e pelo ângulo perfeitos. As imagens são então trabalhadas digitalmente em várias etapas e camadas, até obter o resultado desejado. “Em uma representação que lembra muito os artistas viajantes, como Thomas Ender e Rugendas, Cássio faz um trabalho requintado, em que mesmo em fotos panorâmicas é possível identificar cada um dos elementos, em um naturismo e detalhismo tais que por instantes há a dúvida se é fotografia ou gravura”, observa o pesquisador e curador Theo Monteiro.
Cássio Vasconcellos - Viagem Pitoresca pelo Brasil # 189, 2023 - impressão jato de tinta sobre papel de algodão ed unique 120 x 240 cm - ®Flavio Freire
No dia 17 de agosto, às 11h, será lançado o livro “Cássio Vasconcellos – Viagem Pitoresca pelo Brasil” (Fotô Editorial, 2024), com 192 páginas, formato 32 x 23,5cm e textos de Ângela Berlinde, Julio Bandeira e Ricardo Cardim. Na ocasião, o artista conversará com Ana Maria Belluzo, Ricardo Cardim e Eder Chiodetto.
Nara Roesler São Paulo tem o prazer de apresentar, a partir do dia 17 de agosto de 2024, às 11h, a exposição “Viagem Pitoresca pelo Brasil”, com dezenove fotografias em grande formato, recentes e inéditas, de Cássio Vasconcellos, resultado de três anos de incursões do artista dentro da mata atlântica nos estados de São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro. A curadoria é de Ana Maria Belluzo, crítica e pesquisadora, professora titular de Historia da Arte da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), da Universidade de São Paulo.
O processo de trabalho de Cássio Vasconcellos abrange muitas viagens, “muita lama e carrapato”, e depois um extenso e minucioso trabalho de pós-produção da fotografia, de modo a “limpar” o excesso de informações carregadas pela imagem da floresta, e assim obter o resultado desejado. “Gosto de explorar muito os limites da fotografia. É isso que me interessa como linguagem”, diz.
DIÁLOGO COM OS ARTISTAS VIAJANTES
O título da exposição faz referência aos primeiros registros conhecidos das florestas brasileiras, iniciados pelo aristocrata e arqueólogo francês Conde de Clarac (1777-1847), com seu desenho “Floresta Virgem do Brasil”, gravado em metal por Claude Francois Fortier (1775-1835), em 1822, referência para os chamados “artistas viajantes” do século 19, integrantes da Missão Artística Francesa, como Jean-Baptiste Debret (1768-1848), que ao voltar à França publicou “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil” (1834-1839).
Cássio Vasconcellos - Viagem Pitoresca pelo Brasil # 187, 2023 - impressão jato de tinta sobre papel de algodão ed unique 120 x 360 cm (2 painéis de 150 x 180 cm cada) -
®Flavio Freire
Diferentemente dos artistas viajantes, Cássio Vasconcellos precisa encontrar o enquadramento certo. “Os artistas do século 19 pegavam uma cena que podiam depois acertar no ateliê, tirar por exemplo uma palmeira que estava atrapalhando a imagem”, compara. “A floresta é muito difícil de fotografar. É uma confusão visual tremenda, porque são infinitos planos. É muita informação de uma vez só. E é muito fácil cair na banalidade. São muitos quilômetros de caminhada para achar o ângulo perfeito, e muitas vezes levo um dia inteiro para fazer uma foto. Ao contrário do que muita gente imagina, eu prefiro dias nublados e até com um chuvisco. A luz do sol na floresta não é boa, estoura nas altas luzes, e na sombra fica preto. Sob o nosso sol tropical, a luz é uma paulada”, explica.
Cássio Vasconcellos usa equipamento digital, e após o registro feito na floresta, ele trabalha com muitas camadas de pós-produção. “Dou uma dessaturada. Os tons variam: às vezes ficam mais ou menos verdes, ou uma sépia. Uma cor mais esmaecida, algo intermediário”. “São muitas etapasno ateliê, para se chegar ao resultado”.
O curador e pesquisador Theo Monteiro salienta que “é muito difícil fotografar mata fechada, e com o tratamento feito por Cássio ele consegue criar um tipo de representação que lembra muito o que os viajantes estrangeiros faziam – Clarac, Rugendas (1802-1858), Thomas Ender (1793-1875) – só que é fotografia”. “Com este tratamento muito requintado e elaborado, ficamos na dúvida por alguns instantes se é fotografia ou gravura, que é uma ideia da fotografia e da arte contemporânea: de que meio estamos falando? Até que ponto aquele meio é verídico ou não, se é real ou imaginário? Não é simplesmente uma releitura de um trabalho acadêmico. Tem um jeito de fazer um enquadramento no olhar que fica compreensível. Por mais panorâmico que seja o trabalho do Cássio, você consegue identificar cada um dos elementos. Tem um naturismo, um detalhismo. Não é simplesmente bater uma foto da mata”, afirma.
Cássio Vasconcellos ressalta: “Não tenho a preocupação de revisitar os locais feitos pelos artistas viajantes, e até nem seria possível, com a transformação havida na paisagem desde então”.
Para o público perceber este diálogo proposto pelo artista com os pintores viajantes, estarão na exposição reproduções em alta qualidade das obras “Fôret Vierge Du Brésil” (“Floresta Virgem do Brasil”),1822, buril, 68 x 87 cm, gravura em metal de Claude Francois Fortier a partir de desenho do Conde de Clarac; “Forêt Vierge (Le bords du Parahiba)” e “Valle da Serra do Mar” (“Chaine de Montagnes près de la Mer), litografias de Charles Motte (1784-1836), a partir de desenhos de Jean-Baptiste Debret, presentes na edição de “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil”, Paris, Firmin Didot Frères, tomo I,1834.
IMERSÃO NA FLORESTA
No fundo do salão com pé direito duplo, haverá um painel curvo, com três metros de altura e doze de largura, com a imagem de uma figueira no Rio Grande do Sul, que vai preencher metade da sala, “para a pessoa ter uma certa imersão”, destaca o artista. A fotografia original também estará na exposição, emoldurada.
A expografia abrange duas paredes que serão construídas na primeira sala, para receber as fotografias.
“É uma grande homenagem às florestas, tanto o livro como a exposição. Muitas dessas florestas eu fui com o Cardim, que é uma enciclopédia ambulante, um botânico muito ligado na questão ambiental, da destruição que foi feita, dos remanescentes. Uma aula em que vamos aprendendo o que fizeram contra as florestas”, destaca o artista.
Ana Maria Belluzo, no texto que acompanha a exposição, destaca que “o artista apura valores inerentes à fotografia, acentua e transforma registros do real, que são interpretados com aplicação de recursos de edições digitais”. “A imagem ganha teor expressivo ao aparecer revestida de dimensões plásticas, gráficas, táteis”, observa. “Sob comando da escrita da luz, os raios luminosos emitidos pela vegetação chegam até nós. Vistas em contraluz introduzem o sujeito/observador no interior da mata. Em contrapartida, o desfoque do fundo das fotos e o aspecto turvo de entes vegetais, em destaque, tendem a recriar cenários enigmáticos, até fantásticos. Motivam sensações oníricas. A visão da natureza nos escapa. A irrealidade da paisagem também se insinua pela extrema limpidez de pormenores ampliados. Imagens nos transportam para um mundo fantástico, por vezes fantasmático”.
Um vídeo sobre o processo de Cássio Vasconcellos, feito em 2019, pode ser visto no vídeo abaixo:
SOBRE CÁSSIO VASCONCELLOS
Cássio Vasconcellos (1965, São Paulo, onde vive e trabalha) iniciou sua carreira de fotógrafo no começo dos anos 1980. Apesar de ter vasta experiência como fotojornalista, sua produção artística se destaca pela criação de espaços imaginários e de ficções a partir de elementos da realidade. Seu trabalho ultrapassa os métodos tradicionais da fotografia documental, criando uma linguagem experimental voltada à crítica da sociedade contemporânea. A predileção pela fotografia aérea auxilia na criação de imagens impactantes, que jogam, a partir da escala, com a nossa percepção do mundo. Vasconcellos publicou diversos livros reunindo essa produção, como “Brasil visto do céu“ (Editora Brasileira, 2017), “Panorâmicas” (DBA, 2012) e “Noturnos São Paulo” (2002), entre outros.
Nas suas fotos, podemos nos encontrar diante do excesso de produtos disseminados no nosso cotidiano, assim como da regularidade das formas arquitetônicas que parece se expandir infinitamente, figurações que aparecem como emblemas de nossa cultura. Ou deparamos com a exuberância incomensurável da natureza, traduzida em paisagens, tal como na série “Viagem pitoresca pelo Brasil” (2015), em que o artista se baseia e se inscreve na longa tradição de artistas que buscaram capturar o interior de nossas florestas. Percebe-se, então, que subjaz algo de sublime ao trabalho de Vasconcellos, tendo em vista que suas fotografias nos colocam em contato com aquilo que é demasiadamente vasto.
Entre suas mostras individuais recentes encontram-se: “Dríades e faunos”, na Nara Roesler, no Rio de Janeiro (2020); “Collectives”, no St. Georges’s Gate (Castle of Ioannina), 2019, durante o Photometria Festival, em Ioannina, Grécia; “Viagem pitoresca pelo Brasil”, na Pequena Galeria 18 (2015), em São Paulo; “Aéreas do Brasil”, no Paço das Artes (2014), em São Paulo; e “Coletivos”, no TodayArtMuseum (TAM), 2013, em Beijng, e na Art + Shanghai Gallery (2013), em Xangai, China. Suas obras estiveram recentemente nas coletivas: 13ª Bienal do Mercosul, Brasil (2022); “Trees”, na Fondation Cartier pour l’art contemporain (2019), em Paris, França; “Civilization: The Way We Live Now”, no National Museumof Modern and Contemporary Art (MMCA), 2018, Seul; “Past/Future/Present: Contemporary Brazilian Art from the Museum of Modern Art of São Paulo”, no Phoenix Art Museum (2017), em Phoenix, Estados Unidos; além de “Aquí nos vemos –Fotografíaen América Latina 2000-2015”, no Centro Cultural Kirchner (2015), em Buenos Aires. Suas obras fazem parte de diversas coleções, no Brasil e no exterior, como: Museu de Arte de São Paulo (MASP), São Paulo; Museo Nacional de Bellas Artes, Buenos Aires; Bibliothèque Nationale, Paris; e Museum of Fine Arts Houston (MFAH), Houston, Estados Unidos.
SOBRE ANA MARIA BELLUZO
Graduada no Curso Para Formação de Professores de Desenho pela Fundação Armando Álvares Penteado (1966), com mestrado em Artes pela Universidade de São Paulo (1980), doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1988) e Livre-Docência (1997), foi professora titular de História da Arte da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (1998-1999), e atualmente colabora como professora no Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Atua como crítica, pesquisadora e curadora independente. É membro: da Associação Brasileira de Críticos de Arte; do Comitê Brasileiro de História da Arte; do comitê de pesquisa do International Center for theArtsoftheAmericas do Museumof Fine Arts, Houston; do Conselho de Orientação Artística da Pinacoteca do Estado de São Paulo; coordena o comitê brasileiro do projeto "Documentsof 20th Century of Latin American and Latino Art", junto à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
SOBRE NARA ROESLER
Nara Roesler é uma das principais galerias de arte contemporânea do Brasil, representa artistas brasileiros e latino-americanos influentes da década de 1950, além de importantes artistas estabelecidos e em início de carreira que dialogam com as tendências inauguradas por essas figuras históricas. Fundada em 1989 por Nara Roesler, a galeria fomenta a inovação curatorial consistentemente, sempre mantendo os mais altos padrões de qualidade em suas produções artísticas. Para tanto, desenvolveu um programa de exposições seleto e rigoroso, em estreita colaboração com seus artistas; implantou e manteve o programa Roesler Hotel, uma plataforma de projetos curatoriais; e apoiou seus artistas continuamente, para além do espaço da galeria, trabalhando em parceria com instituições e curadores em exposições externas. A galeria duplicou seu espaço expositivo em São Paulo em 2012 e inaugurou novos espaços no Rio de Janeiro, em 2014, e em Nova York, em 2015, dando continuidade à sua missão de proporcionar a melhor plataforma possível para que seus artistas possam expor seus trabalhos.
Serviço: Exposição “Cássio Vasconcellos – Viagem Pitoresca pelo Brasil”
Abertura: 17 de agosto de 2024, das 11h às 17h
Até: 12 de outubro de 2024
Entrada gratuita
Nara Roesler, São Paulo
Avenida Europa, 655Segunda a sexta, das 10h às 19hSábado, das 11h às 15h
Telefone : 55 (11) 2039 5454info@nararoesler.art
Comunicação: Paula Plee – com.sp@nararoesler.com
Canais digitais:
Instagram – @galerianararoesler
Facebook – @GaleriaNaraRoesler
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